quinta-feira, 21 de junho de 2012

OS FILMES SALUTARES DOS COW-BOYS - O público "smart" detesta êsses filmes


(...) O público "smart" detesta êsses filmes, e os exibidores procuram servir-lhe, quanto possivel, as ementas da sua predilecção.
A relutância da gente bem pelas aventuras dos vaqueiros do Oeste americano tem a sua origem nos seguintes factos:
Em primeiro lugar, os argumentos das fitas são muito ingénuos e muito parecidos uns com os outros. Em regra, as histórias giram à volta de três figuras centrais: o bom vaqueiro, o bandido e a filha do Sheriff, cujo coração ambos pretendem conquistar. E, em regra também, vence o bom vaqueiro e casa com a menina.
A segunda razão dessa repulsa é o cavalo habilidoso. (Em quási todos os "cow-boys" há um cavalo habilidoso com um nome sugestivo). A gente bem não aprecia êsse género de habilidades. Prefere as de Shirley Temple.
Ainda há uma terceira razão - o facto de estar estabelecido que os romances de vaqueiros apenas devem interessar a garotada.
Não pretendemos sugerir que essa atitude é menos inteligente e digna.
Longe de nós tal ideia. Na América, no resto da Europa, em toda a parte, acontece a mesma coisa. Os filmes de "cow-boys" tem um público especial e não parece justo censurar quem não os aprecia.


Mas, também nos impressiona o facto de, pelo menos uma vez por outra - ainda que apenas uma vez na vida - não se deseje sair dos salões elegantes, dos escritórios e dos palcos, duma maneira geral - dos limites acanhados das quatro paredes dos estúdios - para respirar, a plenos pulmões, o ar-livre das campinas e das serranias, que são os imensos campos de pastagem do Oeste, onde os desenvoltos e sádios "cow-boys" dão largas à sêde incontida de aventura.
Não contestamos a pulcridade das histórias, mas também não reconhecemos o direito de as repelir por indesejáveis.
Nas fitas de vaqueiros há sempre, pelo menos, um elemento precioso: o todo salutar que as distingue das outras fitas, quer no que diz respeito ao fundo moral dos desenlaces, quer no que toca à vastidão dos horizontes, que nos dá uma agradável sensação de ar-livre, quer, ainda, no respeitante ao aspecto saudável dos intérpretes, adivinhado atravez os rostos queimados pelo sol e a invulgar destreza de movimentos.
in  Revista "Filmagem", Maio de 1942

0 comentários:

Enviar um comentário